FILOSOFANDO SOBRE MINHAS PALHETAS...

Elione Alves de Medeiros

 

Mexer com palheta não é fácil! Todos sabemos disso, e quantas delas certamente já não quebramos ou perdemos já no fim da linha, quando estavam quase no ponto ideal.

Quantas também não quebrei de raiva! "Tarefa" nada fácil, sobretudo quando a construí com todo carinho, desde a "goivagem", até a montagem, a amarração dos arames, o enrolar da linha,  esta escolhida mesmo na cor predileta!  às vezes até refazendo a turkey head (cabeça turca) ou turbante...

Conheço fagotistas que até personalizam suas palhetas, dando-lhes cores diferentes para distingui-la umas das outras.

Confesso que não sou muito organizado, nem tampouco meticuloso com  medidas e detalhes sutis em relação à confecção de palhetas. Tenho usado o "olhômetro" para deduzir o tamanho do tubo e da lâmina. E por incrível que possa parecer as palhetas que construo têm estado em harmonia em suas medidas; isso não quer dizer iguais, mas semelhantes apenas!. Tenho obedecido aos tamanhos das canas  Rieger e por sugestão de Afonso Venturieri busco diminuir o tubo, cortando mais ou menos  meio centímetro, usando também para isso o "olhômetro".

Em geral desconfio de canas brancas que parecem verdes ainda, e também das amareladas em demasia, por me parecerem bastante velhas.

Acho que uma organização metodológica e técnica na construção de palhetas ajuda a entender o processo de busca do som ideal, mas por outro lado não existe, pelo menos que eu saiba, nenhum embasamento científico ou técnico que determine o valor de uma cana, uma regra que determine que fazendo dessa ou daquela forma vai funcionar, pois todas são diferentes entre si, a ponto de me remeter a algo que me lembra a Psicologia: até parece que a cana tem ego

Já fiz palheta com o maior esmero, com cana de excelente qualidade, que de maneira alguma  funcionou como eu esperava. Por outro lado, já arranquei "bifinhos" de uma palheta que confeccionei de forma desajeitada, palheta que funcionou "às mil maravilhas"! (será que ela tinha um ego masoquista?)

Acho que além da construção padronizada da palheta, devemos pensar na situação personalizada de cada uma! Às vezes eu fico pensando de forma microscópica ,  imaginando aqueles milhões de  pequeninas células da lâmina de taquara, que reidratada pela nossa saliva recebe o nosso sopro e começa a vibrar dentro da nossa boca. Como isso acontece?! É incrível! todos nós sabemos que o som se propaga melhor pelos meios flexíveis ou elásticos, mas existem milhões de células na lâmina de madeira que são intermediárias desse som ou vibração. Não existe uma organização pluricelular igual para cada palheta! Será que isso influi? eu acho que sim. Por isso sou de opinião que não existe uma raspagem igual para todas as palhetas (falo dos detalhes finais). Mesmo usando uma máquina copiadora como essas que existem no mercado.

Por isso acho que a cana, ainda que de um mesmo fornecedor, e fazendo parte de um mesmo tubo mestre, terá a sua organização celular disposta num formato diferente e isto pode contribuir no resultado qualitativo na construção e execução da mesma. Pode ser que eu esteja delirando nas minhas fantasias neuróticas, se assim for, me desculpem, afinal de contas, quem não tem suas neuroses?

Um grande abraço ao som sonoro de uma boa palheta!

Elione Alves de Medeiros

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