A SONORIDADE DO FAGOTE

Elione Alves de Medeiros


Gostaria de tecer aqui alguns comentários a respeito de sonoridade no fagote (qualidade sonora). Tudo que eu disser aqui é de senso comum, tendo somente alguns registros coletados em livro. Acho que o som ideal buscado por todo fagotista, deverá ser aquele que lhe agrade em primeiro lugar e lhe motive tocar o instrumento. A bem da verdade o músico primeiro toca para si mesmo, e depois deseja mostrar para os outros a sua arte. Todo artista é assim, acredito eu.

Harmônicos 
Tenho observado nas aulas de canto lírico, orientações a respeito dos harmônicos da voz, onde o cantor ou cantora deverá procurar pela técnica vocal, aprimorar os harmônicos e dessa forma enriquecer a sonoridade da voz, que preenchida dos harmônicos a partir do som fundamental, se torna mais bonita e completa. para isso a cantora trabalha os espaços vazios do corpo como ressonadores da voz. 

Tubo 
O fagote ressoa a partir do tubo de madeira que fechado soa a fundamental (sib1) e ao se abrir os orifícios de forma combinada, os sons parciais vão surgindo. Cada som destacado possui sua gama de harmônicos e cada harmônico surge de acordo com a energia que nele é depositada, e assim vai enriquecendo a sonoridade, que é preenchida de tal forma ao ponto de se tornar um bonito som (universalmente aceito). 

Personalidade 
Cada fagotista tem um som peculiar e essa sutileza é observável por outro fagotista ou instrumentista que tenha certa familiaridade com o som do fagote. Isso identifica o som pessoal de cada fagotista, é a sua marca indelével que para mim é resultante de um somatório de qualidades intrínsecas que este possui, sua visão de mundo e de si mesmo. A energia que ele gasta nessa busca de auto entendimento é para mim a mesma que ele gasta no fazer artístico. Parece metafísica mas não é. O resultado da qualidade sonora extraída do fagote será subjetivamente proporcional ou inerente ao comportamento íntimo do fagotista. Será o produto de suas buscas como ser pensante, emotivo e sentimental

Sugestões técnicas 
Creio pela experiência pessoal, que se o fagotista usar uma boa pressão de ar com uma boa coluna de ar bem projetada e intensa, ele conseguirá ativar os harmônicos superiores do instrumento e enriquecer o som de modo universal (no sentido que agrade a gregos e troianos). Lembro e passo aos alunos um bom exercício: Fique de frente para uma quina de parede e comece a tocar o ciclo das quintas em quintas, da nota mais grave para a mais aguda que puder. Iniciando o som com um ataque mais ppp possível e crescendo até o fff possível, faça isso com cada nota e seja crítico daquilo que ouve! O som rebate na quina da parede e ressoa por trás do fagotista, dando a impressão de vir de outra parte (subjetividade) fazendo com que possa analisar o som de forma mais neutra, fazendo de conta que não é ele que esta tocando. Isso resulta na abertura do som e enriquece-o também, possibilitando ao fagotista uma gama maior entre a relatividade do forte e do piano que possa obter
. Faça essa experiência, vale a pena. Aprendi essa técnica durante meus tempos de estudante e repasso-a para os meus alunos. Com isso você aprende a sentir melhor o som que produz no seu instrumento. Faça o exercício imaginando-se um Yogue, isto é, trabalhando a concentração, a observação e a tenacidade nos seus objetivos magnos; é a vida!

 

ELIONE ALVES DE MEDEIROS é professor de fagote da UniRio, fagotista da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e fagotista da Orquestra Pró-Música. Este artigo é extraído de uma mensagem enviada ao "Clube dos Fagotistas".

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