CD em foco

 

Henrique de Curitiba, 50 anos de música

 

 

  3 EPISÓDIOS 16. ALELUIA, PAZ NA TERRA
  1. I lento 17. AL TELÉFONO 345...
  2. II Allegro 18. PARA UM MESTRE DE CANTO
  3. III Vivaz CORNELL IMPRESSIONS
  PEQUENA SUITE 19. esquilos
  4. suave milonga 20. o lago Bebee
  5. marchinha 21. jogging
  6. cantiga de ninar 22. a torre
  7. bailado caipira

23 REVERIE

  6 POEMAS KOLODY

SUITE DANSANTE

  8. cantar

24. marcha rancho
  9. cantiga de roda 25. sambinha
  10. voz da noite 26. valseado
  11. âmago 27. arrasta pé
  12. nunca e sempre  
  13. viagem infinita

28 E-TARU-Ê (coral)

  14 ELEGIA

29 E-TARU-Ê (metais)

  15 ORAÇÃO PELA PAZ  

 

HENRIQUE DE CURITIBA, 50 anos de música é um CD independente, produzido pelo próprio compositor, selecionando obras marcantes ao longo de sua carreira para diversas combinações instrumentais (piano, violão, canto, sopros), dentre elas a Suite Dansante para quinteto de sopros (editada por Editions Viento). Aliás, Henrique de Curitiba tem significativa composição para instrumentos de sopro, algumas delas disponíveis no portal do fagote.

 

A SUITE DANSANTE, disponível para audição nesta seção, foi escrita para o Quinteto de Sopros de Curitiba (Luis Fernando Sieciechowicz, flauta; Joel Gisinger, oboé; Ovanir Buosi Jr, clarineta; José Costa Filho, trompa; Jamil Bark, fagote), durante os dias de carnaval de 1996. De caráter leve, alegre, baseada em ritmos populares, tem no seu último movimento uma citação do tema folclórico gaúcho "Pezinho". Sua estréia nacional aconteceu no 20º FML (festival de música de Londrina), onde foi gravada por Franck Acker, como um dos últimos trabalhos deste extraordinário mestre-gravador, responsável pelo registro da maioria das obras eruditas brasileiras dos meados do séc. XX. Fica aqui também registrado o trágico falecimento do talentoso flautista deste quinteto, o querido "China", ocorrido apenas alguns meses após a gravação.

 

Como homenagem a Henrique Zbigniew Morozowicz, conhecido simplesmente por HENRIQUE DE CURITIBA, falecido em fevereiro de 2008, o portal do fagote presta homenagem à memória deste artista, músico completo, pianista, organista, professor, compositor; e abre com um CD de suas obras esta nova seção CD em FOCO.

  

Tive a oportunidade de conviver com Henrique, tive com ele aulas de harmonia, fiz a primeira audição brasileira de sua Mini-ópera (fagote e barítono) e a estréia do Humoresque, trio a mim dedicado por ocasião de minha volta ao Brasil após estudos em Munique, em agosto de 1977.

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A música brasileira perde HENRIQUE DE CURITIBA
Por Glacy Antunes - artigo publicado no site VIVAMUSICA

A morte de Henrique Morozowicz, Henrique de Curitiba, um dos mais importantes compositores brasileiros da atualidade, ocorrida no dia 18 de fevereiro de 2008, entristece família e amigos e significa profunda perda para a música do Brasil.

Tarefa difícil descrever personagem tão rico e complexo, misto de gentleman e autoridade, detalhista ao extremo, austero na vida pessoal, grande amigo de seus amigos e, sobretudo, músico primoroso.

Pai orgulhoso, Henrique foi casado com a musicista Ulrike Graf, com quem formou o celebrado “Duo Schubertiano” de piano a quatro mãos, entre os anos de 1968 e 1976.

Ele deixa um casal de filhos, Karina (casada com Gonzaga) e Alexis (casado com Graziela), dois lindos netos, Thales e Luísa, e ainda um netinho por chegar em maio, na Espanha.

Nos últimos anos, Henrique dedicou especial carinho e obras muito significativas à musicista goiana Gyovana Carneiro.

O compositor, que iniciou seus estudos de piano com a mãe, Wanda Lachowski Morozowicz, manteve sempre estreito convívio com seus irmãos, Milena e Norton, ambos também artistas.

Os três prosseguiram a tradição familiar iniciada com a avó, Natália Morozowicz, atriz renomada de grande carreira na Polônia, depois com o pai, Tadeuz Morozowicz, bailarino e coreógrafo formado no Teatro Nacional de Varsóvia e na Escola Imperial de Ballet de Saint Petersburg, fundador, em Curitiba, da primeira escola de dança clássica do país.

Parceiros, tanto na vida familiar como também na musical, Norton e Henrique formaram o Duo Morozowicz, de flauta e piano, que gravou vários discos e apresentou-se em recitais e concertos por todo o Brasil.

Dono de personalidade singular, marcante, elegante, que impressionava pelo amplo conhecimento, Henrique Morozowicz passou a ser conhecido como Henrique de Curitiba a partir de 1954 quando foi para São Paulo estudar piano com Henry Jolles e composição com H.J.Koellreuter.

Era pianista, organista, professor, compositor e músico exigente. Exerceu funções administrativas importantes para a música do Paraná como a direção da Embap, a coordenação do curso de Educação Artística da UFPR, a presidência da Sociedade Pro-Musica de Curitiba e a coordenação da Programação Nacional de Música FUNARTE/UFPR. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Paraná.

Destaca-se a amplitude e diversidade da produção – instrumental, vocal, coral e orquestral – deste compositor paranaense, cujo catálogo de obras é objeto de grande interesse por parte da comunidade musical brasileira e também do exterior.

Henrique de Curitiba teve seu “Catálogo de Obras Henrique de Curitiba Morozowicz” publicado primeiramente em 1977 pelo Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores.

Em 1997, foi lançado em Curitiba o “Catálogo Temático: Henrique de Curitiba” organizado pelas pesquisadoras Liana M. Justus e Miriam C. Bonk.

São inúmeras suas atividades a ressaltar, desde o talento pianístico do jovem Henrique que, nos idos de 1960, representou o Brasil no Concurso Internacional de Piano de Varsóvia e estudou na Escola Superior de Musica da capital da Polônia.

Cursou Mestrado na Cornell University (1980, EUA), assistiu apresentações de suas obras corais nos Estados Unidos (2001), em Amsterdam e Utrecht (2006), viu edições de seus trabalhos impressas na Bélgica e teve sua música sempre incluída nas Bienais Brasileiras de Música Contemporânea.

Na última Bienal, em outubro de 2007, foi ouvida sua Cantate cum Gaudio, obra coral com texto em latim.

Henrique de Curitiba foi também um pouco Henrique de Londrina e – como é possível? – Henrique de Goiânia.

Viveu por alguns anos em Londrina, participando da vida artística desta cidade que também amava e na qual foi diretor artístico e professor do Festival Nacional de Música.

No dizer do próprio Henrique “Em Londrina, pude me dedicar especialmente à musica coral e às composições para voz, segmento da música que passou a me interessar cada vez mais. Nesse período, participei de vários festivais de música tradicionais da cidade, onde várias de minhas obras foram executadas e gravadas. Celebrei também em Londrina os 50 anos de atividade como compositor, fato comemorado com várias apresentações de minhas obras e a edição de um CD comemorativo. Ainda nesse período, tive várias obras executadas e publicadas no exterior.”

Em 2003, mudou sua residência para a cidade de Goiânia, em Goiás, convidado para ocupar a cadeira de professor de Composição e Matérias Teóricas na Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da UFG.

No período passado em Goiânia, importantes obras foram escritas e dedicadas a músicos daquele estado como “Corre, corre pra Goiânia”, capricho para piano quatro mãos; “Três Cantos Goyanos”, para canto e piano; “Comentários sobre uma obra de Mozart”, para piano solo; “Bons Ditames”, variações corais; “Três Estudos Pontuais”, para violão; “Canção para a moça que passava”, canto e piano; “Morena, moreninha”, para canto e piano.

Acontecimentos significativos ocorreram em 2006 na profícua vida do compositor: participou da apresentação de Música Brasileira realizada pelo coral Hollands Vocaal Ensemble dirigido por Fokko Oldenhuis, em Amsterdam e Utrecht, com as obras Soneto de Amor, Tinturero Calma e Lua Macumbê.

Teve um concerto de suas obras na programação Sesc/Emac em Goiânia; recebeu homenagem na série “Terças Clássicas” do HSBC de Curitiba, com inclusão das obras “Três Estudos Pontuais”, interpretados por Eduardo Meirinhos e “Variações Frére Jaques”, interpretadas por mim.

Também realizou um recital de obras próprias para a série “Concertos Goiânia Ouro”, da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia.

Em 2007, Henrique Morozowicz volta a residir em Curitiba, participa do lançamento do CD da Camerata Antiqua de Curitiba no qual foram gravadas suas “Cantigas do Bem Querer” e escreve suas últimas obras: “Outono Dolente”, para coral a capella, dedicado ao Coral da FOSGO, Goiânia; “Suíte Paranaense”, versão para flauta e piano (da obra apresentada em Goiânia, 1996); “Suíte Dançante”, para piano 4 mãos (versão da mesma obra para quinteto de sopros), “Impressões da Lapinha”, para flauta e piano e “Constatação Fatal”, ária humorística para barítono/baixo e piano, com texto de J. Zokner, em homenagem ao próprio autor da letra.

Vale destacar que composições de Henrique de Curitiba estão incluídas em aproximadamente 42 LPs e CDs, com gravações realizadas em Curitiba, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro, Londrina, Brasília, Goiânia e também no exterior, na Alemanha, Bélgica, Holanda, nos Estados Unidos (Texas e Califórnia), na Argentina e na Itália.

Suas obras estão editadas em vários países, além do Brasil. É fascinante a quantidade e qualidade de suas 59 composições corais.

Perde o Brasil, perde a família, perdem os amigos. Ficam as referências em dicionários, guias e livros.

Será sempre ouvida a música imortal de um ícone paranaense, representante da forte etnia polonesa a qual tinha particular satisfação em pertencer: falava e escrevia excelente polonês, mas sempre se dizia autêntico compositor brasileiro, amálgama de genética, formação, tradição e vivências.

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