conversa de
fagotista |
- o fagote
nosso de cada dia - |
o portal do
fagote, inspirado numa mensagem de e-mail enviada por
Maria da Graça Oliveira-Plümacher ao grupo dos
fagotistas na internet, solicitou a diversos fagotistas que falassem um
pouco de seu "caso" com o fagote, o instrumento nosso de
todo dia... aqui as respostas daqueles que
corresponderam à solicitação!
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MARIA DA GRAÇA OLIVEIRA-PLÜMACHER |
(em mensagem enviada ao grupo dos
fagotistas em 6 de julho de 2007) |
fui aluna do Hary em Brasília, e moro hoje na Alemanha. Tenho
acompanhado essa discussão sobre que fagote comprar ? É difícil
saber a resposta certa, mas vou contar ao grupo o que me
aconteceu quando comecei com o fagote:
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"Primeiro tive que dividir um fagote Schreiber com um colega em
Brasília, o Afrânio. Como ele estava inscrito no curso de fagote
e eu no de piano (eu tinha o fagote como segundo instrumento),
eu só pegava no instrumento quando ele não precisava, o que
nunca me atrapalhou nos estudos.
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Depois apareceu um fagote de plástico (sem estojo) americano da
firma LINTON. Comprei-o, pois precisava de um e de mais horas de
estudo. Acabei tocando muito com esse fagote, ele tinha um som
pequeno, mas era o único à minha disposição. Depois que o colega
Afrânio conseguiu um fagote melhor, pude pegar novamente o Schreiber, com o qual comecei e depois de poucos anos me formei
na classe do Prof. Hary.
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Vim para a Alemanha sem fagote, com a intenção de economizar o
máximo possível e aprender o que pudesse, para mais tarde, poder
comprar o meu. Depois de poder emprestar um fagote Püchner da
Musikhochschule onde estudei (Universidade de Música na
Alemanha), entendi que o instrumento é importante , mas não “o
mais importante”. Depois de economizar muito e trabalhar também,
consegui comprar meu Püchner.
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Ou seja pra que toda essa história? Para mostrar para vocês que
o mercado de fagote no Brasil triplicou, se não me engano. Vocês
tem um fabricante de fagotes no Brasil, que é muito bom, faz
reformas muito boas e o preço é em conta. Sem falar nos outros
fagotes usados que andam por “aí”. Gente, não percam tempo em
querer comprar só os “bons” e caros fagotes alemães. Vocês estão
perdendo tempo! e mais tarde verão que o mais importante, é ter
um bom professor e muitas horas de estudo...
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Agradeço ao Hary pela ajuda que sempre me deu e pela sua
capacidade de “concertar” tudo, pois foi assim que ele começou
com seus fagotes."
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ARIANE PETRI |
"Nasci numa cidadezinha de
35.000 habitantes na Alemanha. Aos treze anos de idade, eu já
estava bem adiantada no piano. Meu professor, que era tanto
"músico completo" quanto pianista fazia muita questão que eu
fizesse música de câmara; e de fato, eu curtia muito acompanhar
no piano os meus amigos e colegas instrumentistas. Além disso,
ele me levava para os ensaios do coro dele, que ao final de cada
projeto agregava uma orquestra arregimentada. Assim cresceu a
vontade de tocar em grupo, em orquestra. Com os meus treze anos
eu já sabia que ia levar a música a sério e descartei desta
forma o estudo do violoncelo (para o qual eu sentia o maior
respeito) e de qualquer outro instrumentos de corda, porque me
sentia "velha" demais para tentar correr atrás do atraso em
comparação com meus colegas que tinham iniciado os estudos
geralmente aos 8 ou 10 anos de idade. Sobraram os instrumentos
de sopro: Flautas, tinha "como areia no mar" na orquestra da
Escola de Música daquela minha cidadezinha. Já que a idéia era
tocar em orquestra, não quis competir com tantas flautas... Já
oboés eram raros, e fagotes nem existiam, mesmo porque a escola
ainda nem tinha professor de fagote. Eu, muito alta para minha
idade, comecei a me identificar com esse instrumento longo, que
para mim era exótico - e ainda trazia a vantagem de tocar na
mesmo região do violoncelo.
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Ao comentar isso com meu
professor de piano, que era também o diretor da Escola, ele
prometeu arrumar um professor para fagote, mas isso ia demorar
um pouco. Olhando para trás, acho surpreendente que eu não
pensei em procurar um professor na capital do estado, Stuttgart,
que afinal só fica a 30 km ou meia hora de trem daquela
cidadezinha.... Mas, de fato as condições naquela cidadezinha
nunca tinham deixado faltar nada, e portanto era quase que
"natural" que a Escola ia completar também o quadro de
professores. Afinal, após um ano, a Escola contratou um ótimo
professor de fagote e comprou dois instrumentos, colocando-os à
disposição dos iniciantes: Eram da marca Amati, comprados ainda
antes da contratação do professor. Lembro até hoje o
desapontamento do meu professor de fagote em relação a essa
compra, porque achava que com um pouco mais podia ter feito uma
compra bem melhor. Um deles ficou comigo por cerca dois anos.
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A troca de instrumento se deu
da seguinte maneira: Como o avanço no fagote se dava de maneira
bem rápida (afinal, o "terreno" já estava preparado pelo piano,
pelo coro, pela música de câmara), meu professor logo pediu uma
conversa com os meus pais. Assunto: compra de um instrumento. Eu
assistia a essa conversa um tanto constrangida, porque pouco
antes eles já tinham comprado para mim um piano bom (e caro...).
A agora era a vez do fagote, que tinha que ser um Püchner,
porque com esse eu ia longe... E meu pai deu um suspiro fundo,
olhou para mim e falou: "Bom, então vamos começar a juntar
dinheiro de novo." Aí se passou mais um ano (para mim de muita
ansiedade), fomos para a fábrica, o meu professor experimentou
uns cinco fagotes. Algumas horas depois, aos meus 16 anos, me
sentia o máximo como dona de um Püchner que me acompanha até
hoje. A "estréia" deste instrumento foi oficializada algumas
semanas depois, quando "vencemos juntos" o concurso "Jugend
Musiziert" (Jovens Musicistas).
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Talvez essa história pareça um
tanto linear, como se tudo tivesse acontecido sem problemas ou
complicações, quando comparado à dificuldade de acesso de ensino
e aquisição de instrumento de muitos brasileiros. Com certeza
foi de uma importância incrível poder contar com a
compreensão dos meus pais, que (mesmo sem tocar nenhum
instrumento) sempre me apoiaram nestas minhas "necessidades". E
o mesmo agradecimento eu devo aos meus professores desta
primeira fase de aprendizado, que souberam abrir os caminhos
para mim e zelaram pela qualidade.
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Foi este o começo de tudo!"
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OTÁVIO AUGUSTO MARTINEZ |
"Foi uma paixão aterradora...
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Começou na minha infância, na
verdade...
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Eu a vi de longe... Estávamos
no Teatro Municipal de São Paulo; ela dobrava-se amorosamente
nos braços de um senhor, e a ele murmurava doces lamentos; ele,
por sua vez, com os olhos cerrados, concordava ardorosamente com
suas palavras lentamente movimentando a cabeça. Não sei como eu
conseguia ouvir seu murmúrio em meio a tanto barulho, mas eu a
ouvia perfeitamente! E ao ouvir sua voz aveludada, meu coração
se rendeu àquela senhora de estranho porte.
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Passado algum tempo, eu, um
garoto de apenas 11 anos, fui em busca dela, mas não a
encontrava. Porém, um belo dia, estando no mesmo teatro onde a
vira pela primeira vez, encontrei o homem que era seu amante, e
logo perguntei quem era a bela dama que fazia companhia a ele
naquela noite de ópera. Ele respondeu sorridente: - "Ela é
minha esposa, Frau Schreiber. Você gostou dela?" Eu fiquei
enrubescido, relutei em responder, mas em minha inocência,
respondi que sim!
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Aquele senhor que tinha um
narizinho com a ponta vermelha, ostentava na face uns óculos com
grandes aros cintilantes, abraçou-me e sentou-se a meu lado,
dizendo: - "Frau Schreiber é muito velha e muito grande para
você, menino. Por que você não namora Miss Armstrong?"
(apontando para ela, que estava tranqüilamente sentada na
cadeira a frente). Eu até que gostei de Miss Armstrong! Ela era
delicada, jovial, tinha um corpo reluzente, uma silhueta frágil,
sua voz era suave como o uivar dos ventos, como o canto dos
pássaros... Mas também dava gritos estridentes quando ficava
nervosa!
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As minhas primeiras conversas
com Miss Armstrong eram truncadas, era necessária muita sutileza
no trato... Até que um dia eu descobri o ponto de equilíbrio
para nossa relação... Aprendi a amá-la, a ponto de, ao estarmos
juntos, parecermos um só corpo aos olhos dos que nos
vislumbravam.
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Entretanto, devo ser sincero,
não esquecia Frau Schreiber...
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Um dia, sem que Miss Armstrong
soubesse, fui ter com o senhor do nariz de rena, e ansiei por
ver Frau Schreiber. Ele, sempre sorridente e compassivo,
chamou-a para junto de nós; sentamos em sua sala, comemos bolo
de cenoura e tomamos chá de morango, enquanto conversávamos a
respeito de meu romance pueril por aquela distinta senhora
alemã. Ela não falava português, e nossa conversa fora
intermediada pelo senhor do nariz de rena... Eles até que
tentaram tirar da minha cabeça aquilo, mas não conseguiram.
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Fui resoluto! Insisti em
afirmar meu romance por Frau Schreiber... Até que ela teve uma
brilhante idéia, que foi comunicada através de seu esposo: -
"Frau Schreiber tem uma sobrinha que está vindo da Alemanha,
você não gostaria de conhecê-la? Ela é idêntica a tia em todos
os quesitos, porém mais nova". Eu me animei com aquela
perspectiva e fiquei no aguardo da chegada da moça.
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Logo contei toda verdade a Miss
Armstrong, e para minha surpresa, a americaninha delicada
consentiu humildemente com minha 'bigamia'."
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http://ocontistacronico.blogspot.com/2006/08/eu-frau-schreiber.html
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HARY SCHWEIZER |
"Sempre gostei de música. Se ia
fazer dela minha profissão, nem sempre estava definido; caso
contrário não teria primeiro tentado alguns semestres de
filosofia, nem outros de letras. Até que desembarquei na Escola
de Música e Belas Artes do Paraná. Limitada na oferta de cursos,
nela me sobrou apenas a opção de estudar piano. Gostava muito de
orquestra, sonhava até em tocar um dia numa. Num dos cursos de
verão em Curitiba, na época em que Roberto Schnorrenberg os
dirigia, surgiu a oportunidade... como que num estalo! O
professor de teoria estava atrasado; para ganhar tempo um dos
alunos, estudante de fagote, abriu o estojo e começou a estudar.
Não sei quem foi este anjo em minha vida! Pensei comigo e
decidi: é este o instrumento que vou tocar. E para reafirmar
minha decisão, naquela mesma noite Noel Devos apresentava o
concerto de Mozart, K. 191. O problema era conseguir o fagote.
Ele estava numa das gavetas da Escola de Música, doação da
Embaixada da Alemanha, e ninguém sequer sabia. Fagote na mão,
estudar com quem? o professor de oboé, quase um amador, foi quem
por dedução de som e posições me ajudou nos primeiros
dedilhados. Depois São Paulo, com Gustave Busch (ia para lá de
15 em 15 dias); mais tarde Alemanha, Munique, com Achim von
Lorne. Ele, como professor num festival de música de Ouro Preto
cometeu a "imprudência" de falar que se um dia eu fosse à
Alemanha, ele daria aulas para mim. Pois bem, seis meses depois,
sem bolsa, com a cara e a coragem, bati à porta dele. Eu não me
arrependi, acho que ele também não. Através dele, que tocava um Puchner, cheguei ao meu primeiro instrumento, também um Puchner.
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E quem diria, vendendo discos
numa loja em Munique, atendi brasileiros da Universidade de
Brasília, que precisava urgentemente de um professor de fagote.
Foi o contato necessário e certeiro. Seis meses depois estava eu
contratado como docente na Universidade. E nesta atividade, à
qual me dediquei em transmitir aquele pouco que eu tive tempo de
aprender, consegui formar alguns alunos que ocupam posições de
destaque no cenário nacional e internacional.
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E depois veio aquela idéia um
tanto absurda de fazer fagotes à base de "prego e martelo", num
gesto de pura improvisação e ousadia... Desde então só toco meus
fagotes, quase sempre no último que ficou pronto, para testar e
fazer os ajustes necessários antes de vende-lo. Somente depois
de ter gravado um CD, o tão falado "Com licença!..." é que
decidi ficar com o fagote com o qual fiz a gravação. Portanto
toco agora o "SCHWEIZER 45". É este meu "caso de amor" pelo
fagote... Muito mais coisas sei e gosto de fazer, mas como nosso
assunto aqui é o fagote, fiquemos nele, se bem que todos falem
muito bem da cachaça que curto destilar de tempos em tempos..."
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Se Você tem também uma história
interessante para contar e quer participar dessa "roda de
conversa de fagotista" é este o seu espaço...
escreva e participe!
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